quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

LEMBRANÇA

Tenho um tanto de lembrança
Entoado em uma cantiga
Desafino na varanda
Mas não estou de bem com vida

Lembro do apito que soava
Na avenida e aquela correria
O trem iria passar

E do amigo que esquecera o perigo
E sua trupe que em casa descansava
E que corri pra avisar

Mas também lembro as modas
Que tocavam na vitrola
E depois passou nas telas
E chamavam discotech

Lembro do amigo que rolava pelo piso
E a sessão de improviso
Pra aprender a dançar

E das meninas que escolhia com medo
Tem noção do desespero?
Achava que ia errar.

Dos amigos que saudade
Alguns ficaram até mais tarde
Outros se foram cedo
Mas eu ainda lembro

Lembro dos Paulos, do João e Silva Netto
Do Isa, Jau e de Carlinhos,
E mais cem nomes pra citar

E também tem o nome das meninas
Estela, Beth, Micheline
E a Claudinha pra terminar

Coisa boa que é lembrança
Desses pedacinhos de vida
E que passam feitos folha
De álbum de fotografia.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Canção do Enamorado

De todas que me apareceram
As que menos valeram
Eram as que pensei amar
Um tanto mais,
E assim se vai
Sem nada de mais,
Um tanto faz.

De todas as loucuras ungidas
As mais condenadas
Eram as mais lindas.
Que nascem e findam,
Assanham e dominam
Que parecem eternas
E então fogem de mim.

A medida mais larga (Depedida amarga)
A palavra ousada (Um “cheguei” sem risada)
A roupa usada (Talagada e água)
Uma rima pra mim (Uma sede sem fim)

Antes das minhas tréguas
Que antecederam a entrega
Houve uma briga ferrenha.
Que se tornaram tão feias,
Uns arranhões inda queimam,
O sangue inda ferve
Me arrancou a pele.

Hoje vejo a senda que me espera.
De abraços com o nada e sozinho
Vendo uma multidão ao lado
Eles aparecem sorrindo.
Escárnio pra mim é um hino
Que canto e desafino.
Sem medo de rir.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

CHAT

Anjo olhe ao redor
Mire o recanto dos napoleões azuis
A terra das virgens devassas
Dos sonhos achados e perdidos
Alguns meio usados, mas ainda em bom estado

Veja o mendigo rico
Converse com o tímido espalhafatoso
Esquive-se do mudo curioso
Corra do carente pegajoso

Cuidado para não pisar no capacho
Ele pode de repente gritar
A triste viúva poderia até rir
Se seu par que aqui jaz pudesse levantar

Voe alto demais
É nas nuvens que todos devem ficar
Mas cuidado ao rolar pelas nuvens
Quem sabe a formula correta para cair?

Bem vinda
Bem vinda ao meu país
Minha terra de sorrisos soltos e lágrimas incontidas
Bem vinda ao país da fantasia
Bem vinda
Bem vinda ao país dos loucos.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O Menino Que Carregava Água Na Peneira por Manoel de Barros

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira

Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro
botando ponto final na frase.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Das Letras Já Lidas by Fábio Bastalha

De tantas letras já lidas
Algumas cantei,
Muitas nem sei
Algumas eu li

Tentava dentre tantas escolher
Algumas de rir
Outras de chorar
Algo de sentir

Para de letra em letra agradar
Quem nada sentia
Que tanto fazia
Tão pouco de mim

E com o tempo de tanto que li
Aprendi com o pranto
Que nem mesmo o santo
Agradava tanto assim

Então deixei de besteira
Levantei a cabeça
Me abanei
E sorri

Aprendi, do tanto já lido,
Que o melhor já contido
Era tão pouco
Tão pouco pra mim

E o melhor que eu poderia
Ao longo de vida
Era guardar essa sorte
Todinha pra mim.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Questão de Fé

Se você pensa que entreguei os pontos
Saiba que eu ainda estou de pé
Meio desequilibrado e tão confuso
Mas ainda assim cheio de fé

Se você acha que tem sempre razão
Que ainda manda em meu coração
Saiba que ele esta aberto até
Mas em você não levo muita fé

Tem gente que diz que entreguei os pontos
Eu não sei se é verdade
Eu não sei a que ponto
Eu não sei
Só sei que a fé quase tudo me deu
E aquilo que entrego
Que digo q é meu
É a minha vida nas mãos de Deus.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Você pode até ser feliz por Fábio Batalha

Não seja como você quer ser
Seja aquilo que te imaginam,
Talvez seja melhor
Você pode até ser feliz

Não procure ser autentico
Nem tão pouco ser audaz
Não precisa ser tão capaz
Você pode até ser feliz

Pra que contar a verdade
Se a mentira é melhor?
Por que não se iludir?
Você pode até ser feliz

Fuja, se iluda
O importante é mentir
Teça uma escaramuça
Você pode até ser feliz
Você pode até ser feliz

Pra que você quer um imóvel
Castelinho de areia é tão legal
Jogue amarelinha
Você pode até ser feliz

Um carrão também ajuda
Você tem de ser o tal
Um perfeito maioral
Você pode até ser feliz

Você tem de ganhar bem
Se quiser ganhar alguém
Tem que ter moral
Você pode até ser feliz

Você pode até ser feliz
Você pode até ser feliz
Você TEM de ser feliz

sexta-feira, 30 de julho de 2010

L.R.

Olhos em mel
Em meio ao negro
Um céu negro
Estrela de iluminar

Um sol de fogo
Um só desejo
Um relampejo
Coisa de se espalhar

Ele de lua
Com pé em Leão
De pele nua
Sabor e tesão

Rima de música
Rima e canção
Uma bruxaria
Princesa
Devaneio
Perdição

quinta-feira, 8 de julho de 2010

PAR

Eu quero uma casa básica
Com almofadas pra sentar
Uma cama pra dormir
Uma quina pra chorar

Um som pra ouvir
Geladeira pra gelar
Banheiro pra entupir
Um fogão de alimentar

Uma noite pra dormir
Uma rede de pendurar
Uma dona pra sentir
Uma noite pra amar

Sem quintal pra fugir
Uma planta pra regar
Uma porta pra sair
Uma vida pra levar

Com visita pra sorrir
Umas contas pra pagar
Arejada pra dormir
E clara ao acordar

Eu quero morar lá

terça-feira, 6 de julho de 2010

Brincadeira de Criança

Eu vou sorrir a toa na rua
Andar com cara de bobo
Caminhar com as mãos no bolso
Tropeçar no ar sem cair

Eu vou derrubar o sorvete
Gaguejar bem na sua frente
Derramar todo leite
E começar a sorrir

Eu vou manchar o tapete
E tocar numa campanhinha
Vou esquecer o lembrete
E vou zanzar por ai

Eu vou correr de cara pra cima
E fazer meia loucura
Me atirar de cabeça numa tina
Rezar pra nunca partir

Eu vou zoar com a vizinha
E passear de elevador
Me esconder por trás da cortina
Quero brincar de amor

Pular no colchão de mola
Jogar espuma no ar
Fazer amor toda hora
Eu vou brincar de amar

domingo, 4 de julho de 2010

Fase

Toda lua um dia enche...
Mas toda lua fica nova
Toda lua uma hora míngua
Mas toda lua uma hora brilha

Mas ela sempre se põe
Então relaxe, e aguarde a lua nova chegar
Então se espalhe
Espere sua lua seja ela qual for

E se toda lua é um dia nascente
Significa que há de crescer
E se ao crescer ficar cheia
Ela há de brilhar

Mas ela sempre se põe
Então relaxe, e aguarde a lua nova chegar
Então se espalhe
Espere sua lua seja ela qual for

Sua lua pode ser um quarto
Ou um côncavo um tanto convexo
Com um brilho emprestado
Um astro meio falso

Mas ela sempre se põe
Então relaxe, e aguarde a lua nova chegar
Então se espalhe
Espere sua lua seja ela qual for.

Dedicada a uma LUA com brilho de ESTRELA chamada UB

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Antes, Durante e Depois

Se eu demorar a chegar não me ligue
Não de a menor importância
Sequer se irrite com isso
Apenas parta sem mim

Se eu chegar agora não me beije
Não precisa sorrir ou falar
Nem sequer olhe pra mim
Mas toque na minha mão

Se eu por acaso permanecer não repare
Não precisa prestar atenção
Não comente a meu respeito
Mas se puder me toque uma canção

Se eu me for agora não se despeça
Não chore de dor ou saudade
Nem fale bem de mim
Apenas lembre que estive aqui

Mas se eu provocar saudade então lembre
Reveja as fotos, leia as palavras
Mas não encare como o fim
Apenas guarde com cuidado
Cada pedaço de mim

terça-feira, 8 de junho de 2010

Poesia Enamorada para Pessoas Sós by Fábio Batalha

Beije-se
Sinta sua pele
Acaricie sua própria face
Aperte-se

Mire-se
Atente ao que vê
Atravesse suas barreiras
Inspire

Respire
Solte um gemido
Faça das mãos um deleite
Transpire

Goze
De maneira lenta
Cerrando seus olhos
....
Faça tudo outra vez

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ditados INpopulares - por Fábio Batalha

Nem todo pecado mora ao lado
Quase nunca se da à outra face
Todo santo tem pés de barro
Quase sempre o ponto acaba a frase.

Quase todo pau é oco
Quem fere com ferro, nem sempre é ferido
Nem todo galho nasce torto
Antes só que mal assistido

Chutar cachorro morto é fácil
A sorte de um é o azar do outro
Caiu do cavalo um tanto grácil
Nem tudo que reluz é ouro

Nem todo ditado é claro
Nem todo sentido é dito
Nem todo caso é acaso’
Nem todo motivo é lido

Amigo faz negócio à parte
Cada cabeça tem uma sentença
Calar a boca virou arte
A ignorância é uma benção

Quem espera sempre alcança
Quem não arrisca não petisca
Quem quer vai ou manda
Esmola demais o santo desconfia

Pimenta no do outro é refresco
Para frente é que se anda
De boa intenção o inferno tá cheio
De grão em grão se enche a pança

Nem todo ditado é claro
Nem todo sentido é dito
Nem todo caso é acaso
Nem todo motivo é lido

A ocasião faz o ladrão
Para narciso bonito é espelho
A pressa é inimiga da perfeição
E muito lobo em pele de cordeiro

Nem todo cão que ladra morde
Cavalo dado não se olha os dentes
Nem todo mal que vem é sorte
Toca em frente que atrás vem gente

Filho de peixe nada bem
Macaco velho corre de cumbuca
O bom filho pra casa vem
Cutucar a onça com vara curta

Quem não arrisca não petisca
A noite todo gato é pardo
E a ovelha negra da família
Vê o barato sair caro

Nem todo ditado é claro
Nem todo sentido é dito
Nem todo caso é acaso
Nem todo motivo é lido

Mas quem não deve não teme
Quem não tem cão, caça com gato
Quem nunca comeu melado,
quando come se lambuza.
Tudo que é bom dura pouco
Mas antes tarde do que nunca

sábado, 27 de março de 2010

Letra e Música - Fábio Alexandre Batalha

Todo momento tem sua canção
E cada momento um estrofe
Vários momentos têm uma letra
E quase toda letra tem o seu refrão

Toda lágrima vira nota tocada
Cada drama um acorde sem dó
Toda alegria pode ser descompassada
Mas todo riso tem a sua escala

Cada passo dado pode ser orquestrado
Um pensamento pode ser sustenido
Um gesto pode ser cantado
Cada tropeço tem um tom meio engraçado

Cada palavra toada termina igual à outra
Cada rima entoada será igual à próxima
A frase dita será igual à risada frouxa
E a cantada será leve e solta

Há sempre uma rima para o que se diz
Há sempre uma canção pra cada momento
Há um nota em tudo que fiz
Mas nem toda canção é feliz.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Ente - Fábio Alexandre Batalha

não se vê lágrimas sob a chuva
Nem sombras no escuro
Não há peso n’água
Nem oxigênio no suspiro

Um momento não é sentido
Os minutos são esquecidos
Não se sente a presença
Do que invade todos os sentidos

Como se sente?
Ainda se sente?
Há rima ausente?
Qual é a semente?

Não se esquiva do tempo
Quem se desvia do dia seguinte?
Todo mundo nasce rebento
Nem todo mundo tem fome

Quem deita tem sono
Quem sofre o faz acordado
Mas todos se deitam
Aproveitando o regalo

Como se sente?
Ainda se sente?
Há rima ausente?
Qual é a semente?

quarta-feira, 24 de março de 2010

SEGUNDA VINDA (Second Coming) - William Butler Yeats (1920)

Girando e girando no círculo que se alarga
O falcão não pode ouvir o falcoeiro;
As coisas despedaçam-se; o centro não pode segurar
Mera anarquia é solta sobre o mundo,
A maré turva de sangue é solta, e em todos lugares
A cerimônia da inocência é afogada;
Aos melhores falta toda convicção, enquanto os piores
Estão cheios de intensidade apaixonada.
Certamente alguma revelação está próxima;
Certamente a Segunda Vinda está próxima.
A Segunda Vinda! Mal essas palavras são proferidas
Quando uma vasta imagem vinda do Spiritus Mundi
Dificulta minha visão: em algum lugar em areias do deserto
Uma forma com corpo de leão e a cabeça de um homem,
Um olhar vazio e impiedoso como o sol,
Está movendo suas lentas coxas, enquanto sobre toda ela
Oscilam sombras de indignados pássaros do deserto.
A escuridão cai novamente; mas agora eu sei
Que vinte séculos de sono profundo
Irromperam-se em pesadelo por um berço oscilante,
E qual besta bruta, sua hora finalmente chegada,
Arrasta-se em direção a Belém para nascer?

segunda-feira, 8 de março de 2010

Energia Negativa... Ou Rastro de Côrno Gordo.

Nas minhas “profundas” observações a respeito da natureza humana e seus mistérios tenho me deparado com um tipo de fenômeno que atinge a todos os homens esporadicamente em determinados momentos de sua vida adulta. O mistério da baixa carga energética, a qual prefiro chamar de “rastro de côrno gordo”... Uma fase chata que acontece sempre após o termino de um namoro. Quem é homem conhece bem. O sujeito em questão esta namorando, a mulherada se atira a seus pés, despencam de arvores, se tornam as rainhas da ousadia. Ficou solteiro? Desaparecem do mapa. É impressionante. Antigas fãs se tornam verdadeiros blocos de gelo e te tratam com uma indiferença colossal. Quando mais novos, nos angustiamos, descabelamos, despentelhamos... Em suma, nos corroemos em ansiedade e agonizamos em martírios solitários regados a cinco dedos. Até que então os céus se apiedam e enviam um anjo de saias pra nos salvar. E eis que, enfim salvos, fazemos o que nossa natureza masculina e falha manda, enfiamos o pé na jaca de novo e pisamos em um novo rastro de côrno. E haja côrno, afffffffffff.